Embora tivesse reduzido em 45% o número de óbitos de ciclistas de 2023 para 2024, apenas nos sete primeiros meses deste ano já foram registrados 10 mortes, contra 6 em todo o ano passado. Ontem, Dia Nacional do Ciclista, foi marcado por treinamento de motoristas de veículos e de ônibus urbanos, além dos próprios ciclistas, para aumentar a segurança de quem pedala pela cidade. “Não é uma data para celebração. O objetivo é refletirmos sobre a fragilidade dos ciclistas no trânsito”, afirma a ONG Rodas da Paz
Criada pela Lei Federal 13.508 de 2017, o Dia Nacional do Ciclista marca a data da morte do biólogo e ciclista brasiliense Pedro Davison, que aos 25 anos de idade foi atropelado e morto, em 2006, por Leonardo Luiz da Costa, que dirigia embriagado, excedia a velocidade permitida para a via e estava com a CNH vencida – e que, pra piorar, fugiu sem prestar socorro. O local do atropelamento, no Eixão Sul (na altura da 214 Sul), exibe até hoje uma Ghost Bike (uma bicicleta branca enfeitada com flores).
Para registrar a data, ontem o Departamento de Trânsito do DF realizou blitz educativa e ação do programa Bike em Dia, no estacionamento 10 do Parque da Cidade, na manhã de ontem. Enquanto uma equipe abordava os condutores, orientando-os quanto aos cuidados com os ciclistas e respeito à legislação, outra equipe abordava os ciclistas com dicas de autocuidado e de cuidados com a bicicleta.
Enquanto isso, no outro lado da cidade, em Samambaia, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob-DF) promoveu a 4ª edição do treinamento “Motorista Amigo do Ciclista”, em parceria com o Serviço Social do Transporte e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Sest/Senat) e com o jornalista e ciclista Afonso Morais. O evento reuniu motoristas das cinco operadoras do Sistema de Transporte Público Coletivo do DF para vivenciar, na prática, a realidade dos ciclistas no trânsito.
“Não é uma data para celebração. Não é uma ocasião para dar parabéns a quem pedala. O objetivo é refletirmos sobre a fragilidade dos ciclistas no trânsito. E essa fragilidade resulta diretamente do abuso de boa parte dos motoristas quanto à velocidade ou ao álcool”, afirma a ONG Rodas da Paz, que trabalha desde 2003 no Distrito Federal buscando um trânsito mais seguro e pacífico. “Também é uma ocasião para avaliarmos o quanto ainda precisamos avançar no planejamento viário, para um dia termos ruas e rodovias que sejam seguras para todos. Não apenas para quem tem airbags”, completa.

Aumento no número de sinistros fatais
Segundo o Detran-DF, o trabalho de conscientização de ciclistas e motoristas que vem sendo feito nos últimos anos tem buscado reduzir o número de sinistros fatais envolvendo ciclistas no DF.
Embora tenha havido redução de 19% na quantidade de ciclistas mortos de 2022 para 2023 – caindo de 26 para 21 óbitos – e a redução de 14% nos óbitos de 2023 para 2024 (18), em 2025, de janeiro até agora, segundo o Detran-DF, 10 ciclistas já morreram ao pedalar nas vias do DF. Em 2024, segundo os dados da Gerência de Estatística do Detran-DF, haviam sido registrados seis óbitos.
“Uma dezena de vidas perdidas é um número que nos alerta do quão frágil é a vida de quem compartilha as vias e espaços públicos com outros tipos de veículos em cima de uma bicicleta. E essa vulnerabilidade a gente não pode esquecer nunca! Por isso, mantemos uma rotina de ações educativas semanalmente, levando a mensagem de autocuidado para os ciclistas e de respeito para os motoristas”, afirmou ontem o diretor-geral do Detran-DF, Marcu Bellini.
Nos sinistros de trânsito ocorridos no DF, observa-se que a grande maioria dos ciclistas mortos são do sexo masculino: todas as 21 vítimas de 2023 eram homens e, das 18 mortes ocorridas em 2024, 16 homens e duas mulheres.
Quanto à faixa etária, dos mortos em 2023, a maioria (10) tinha entre 50 e 59 anos, seguidos dos com idade entre 40 e 49 anos (5); e em 2024, houve quatro com idade entre 20 e 29 anos, três na faixa de 30 a 39 anos e outros três de 50 a 59 anos.

Ação com motoristas de ônibus urbanos
Em Samambaia, o treinamento da Semob-DF, que ocorreu na sede do Sest/Senat, teve como objetivo aproximar motoristas e ciclistas, incentivando a empatia e o respeito nas vias. “A proposta é que cada participante se coloque no lugar do outro e perceba a importância de manter distância e velocidade seguras. Essa conscientização contribui diretamente para a redução de acidentes e para um trânsito mais humano”, destacou o secretário executivo da Semob, Alex Carreiro, durante a abertura do evento.
A programação começou com uma palestra do ciclista Afonso Morais, conhecido como Bikerrepórter, que abordou os desafios enfrentados por quem pedala no trânsito e explicou o que diz a legislação sobre a convivência entre veículos e bicicletas. De acordo com Morais, os ciclistas têm sentido no dia a dia o resultado desse tipo de treinamento.
Após a formação teórica, os motoristas foram para a área externa e participaram de oficinas práticas. Uma delas abordou situações diversas em um simulador, com o objetivo de preparar os profissionais para enfrentar, com mais equilíbrio, os desafios do dia a dia no transporte coletivo. Outra oficina de destaque veio com a proposta de colocar o motorista no lugar do ciclista. No exercício, os rodoviários pedalaram na margem da pista, enquanto os ônibus passavam em alta velocidade a poucos metros.