A capital do Brasil foi citada ontem (positivamente) em anúncio do presidente norte-americano como exemplo de capital com menor índice de homicídios do que Washington. “Sim, Trump falou a verdade”, afirma o secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar
Acostumado a blefar em relação ao Brasil, sobretudo criando narrativas falsas para sobretaxar o comércio bilateral, o presidente Donald Trump citou ontem novamente o país – mais especificamente, Brasília – como exemplo de capitais que têm índices de homicídio menor do que Washington D.C., a capital norte-americana. Mas, desta vez, “ele falou a verdade”, afirmou o secretário de Segurança Pública do DF, Sandro Avelar.
A citação do presidente republicano a Brasilia foi feita ontem, ao anunciar o envio de tropas da Guarda Nacional a Washington e ainda tomar o controle da polícia local, numa intervenção direta na administração da capital, alegando que a cidade enfrenta “uma emergêrcia em segurança pública”.
Na coletiva, Trump exibiu uma placa com os dados comparativos de crimes violentos registrados em várias capitais ao redor do mundo, todas com números melhores do que Washington D.C. – que, embora sejam bastante altos, são os menores em 30 anos, segundo as estatísticas locais.
De acordo com os dados exibidos por Donald Trump, na capital norte-americana foram registrados 41 homicídios por 100 mil habitantes (ele não citou em que ano). Na placa exibida por ele, Brasília teria registrado 13 homicídios para cada 100 mil habitantes – número que está ultrapassado e não reflete a atual situação de Brasília, segundo a Secretaria de Segurança Pública do DF.
“Em 2024, tivemos o menor número de homicídios de toda a serie histórica do DF, medida desde 1977. Foram 6,9 casos para cada 100 mil habitantes, número que nos aproxima dos países europeus”, disse à “Brasilianas” o secretário Sandro Avelar, ao repercutir a fala de Trump.
Segundo o secretário, o que Trump disse “pode ser uma surpresa para muitos, mas é apenas a realidade dos números, baseada no índice mundialmente aceito de casos de homicídios a cada 100 mil habitantes”.
Avelar aproveitou para reforçar a fala do presidente norte-americano (sem deixar de dar uma alfinetada): “Sim, o Trump falou a verdade: Brasília é mais segura que Washington!”.

O que está por trás da intervenção
A medida anunciada ontem por Donald Trump é mais uma no sentido de “tomar controle” de Washington, como o republicano vem ameaçando fazer desde o início do mandato.
A capital dos EUA integra o Distrito de Columbia, e não fica em um estado americano. A cidade é autônoma, com algumas partes da administração compartilhadas com o governo federal, e de tradição democrata, partido da atual prefeita, Muriel Bowser – adversária dele.
“Hoje é o dia da libertação de Washington (mesmo termo usado por Trump ao anunciar o tarifaço em abril)”, disse. “Nós vamos limpar a cidade”, continuou.
Trump afirmou que 800 membros da Guarda Nacional seriam enviados à cidade para começar “operações massivas” de combate ao crime, focando em gangues e traficantes de drogas. Ele também se referiu à presença de moradores de rua na cidade, considerando-a uma questão de segurança. Em sua plataforma, a Truth Social, ele afirmou que os sem-teto deveriam deixar a capital imediatamente, com a promessa de oferecer abrigos fora da cidade ou, caso contrário, serem colocados na prisão.
Em 2024, Washington registrou mais de 5,6 mil pessoas em situação de rua, ocupando o 15º lugar entre as grandes cidades dos EUA. Essa realidade, aliada ao aumento da criminalidade, foi citada por Trump como justificativa para a intervenção.