Dados indicam que apenas 540 quilômetros, de um total de 7.500 que serão avaliados, estão sem nenhuma irregularidade. O asfalto no DF tem mais de 30 anos, em sua maioria
EXCLUSIVO – Levantamento encomendado pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital, a Novacap, e obtido por “Brasilianas”, indica que apenas 8,3% das vias asfaltados de todo o Distrito Federal podem ser classificadas como “Muito Bom”, dentro de parâmetros técnicos estabelecidos a partir do Índice de Condição do Pavimento (ICP).
O ICP é uma medida usada por engenheiros para calcular a qualidade da pista, com base em diversos fatores como a avaliação visual dos defeitos do pavimento (trincas, buracos, deformações, etc.), a severidade desses defeitos e sua extensão.Ele varia de 0 a 100, onde 0 representa uma condição péssima e 100 uma condição excelente.
Até o momento, a empresa contratada pela Novacap fez o levantamento de 85% dos 7.500 quilômetros de vias urbanas do DF. Os demais 15% da malha asfáltica devem ser avaliadas em até 90 dias, segundo a autarquia.
Pelo que se conhece até o momento, apenas 540 quilômetros, dentre os 7.500 km de vias pavimentadas com asfalto no DF, estão na categoria máxima, que é o ICP “Muito Bom” ou “Excelente”, alcançando de 90 a 100 pontos. Ou seja, sem defeitos ou com defeitos muito leves e pouco frequentes. O pavimento está em ótimo estado, com desempenho máximo.
Um exemplo dele é o asfalto do Lago Sul, sobretudo na Estrada-Parque Dom Bosco (DF-025), que foi recentemente recapeada. A pista que passa em frente ao Pontão do Lago Sul é um modelo, segundo a Novacap. É um asfalto sem irregularidades ou ondulações e com toda a sinalização aplicada de forma correta.

Asfalto ruim tem mais de 3 décadas
Na ponta oposta, ou seja, “Muito Ruim”, o levantamento indica que há apenas 20 quilômetros de pistas nessa categoria. Neste caso, a nota vai de 0 a 29 e o pavimento apresenta defeitos graves e generalizados, com grande impacto no desempenho e na segurança. O pavimento pode apresentar riscos e necessitar de uma recuperação completa.
Há exemplos desse asfalto craquelado no Gama, Taguatinga e Ceilândia – regiões em que a pavimentação foi feita há mais de 30 anos. “São asfaltos muito antigos, que não tiveram manutenção corretiva ao longo dos anos”, disse à “Brasilianas” o diretor de Obras da Novacap, André Vaz – que responde pelo serviço.
Mas não é somente nas antigas cidades-satélites que esse asfalto apresenta problemas. “Eu moro na 306 Sul, na Asa Sul, e lá, apesar de não ser uma área de passagem de veículos com carga, o asfalto está todo craquelado e solto. Isso acontece porque é o pavimento oxida ao longo do tempo, mesmo estando com a base em bom estado”, explica André Vaz.
A situação se deteriora ainda mais quando há tráfego pesado, de ônibus e de caminhões, por exemplo. Ou tráfego intenso, como acontece nas vias secundárias das Regiões Administrativas mais antigas.

Levantamento da Novacap é questionado
Um especialista em asfalto e que presta serviços à Novacap, ouvido por “Brasilianas” – e que preferiu não ser identificado -, disse desconfiar que apenas 0,3% do asfalto do DF seja “muito ruim” (o equivalente a 20 quilômetros) e outros 3,6% classificados como “ruim” (cerca de 230 quilômetros). “Basta rodar um pouco mais longe do Plano Piloto para ver que a situação é outra, muito diferente”, afirmou.
“Temos um quantitativo muito maior de vias ruins, nossa malha viária urbana é completamente envelhecida, com vida útil vencida. Dizer que num universo de aproximadamente 12 mil km de vias urbanas (a Novacap afirma que são 7.500), apenas 20 quilômetros são ‘ruim’ é quase irrisório”, afirmou o engenheiro. Segundo ele, hoje, o que é feito pela Novacap é um tapa-buraco. “Você sai de panela (buraco grande) e vai para remendo. Só é retirado o risco de acidente, mas não muda o ICP”, atesta.
Segundo ele, o que deveria ser ofertado é o chamado “conforto viário” e que, para isso, é necessário não apenas remendar os buracos. “Em alguns casos, tem de ser feita a reconstrução da via, porque nem o recapeamento resolve”, completou.