A volta de José Roberto Arruda, em condições de disputar qualquer cargo em 2026, altera todos os cenários políticos feitos até agora, por todos os partidos do DF
Ainda inelegível e sem fazer campanha, Arruda aparece com 15% de intenção de voto em pesquisas eleitorais
José Roberto Arruda está (quase) de volta ao jogo político e das eleições de 2026 no Distrito Federal. Depende apenas de o presidente da República sancionar, sem vetos, o Projeto de Lei Complementar 192, de 2023, que foi aprovado ontem pelo Senado em redação final, em sessão remota.
Se mantido o texto aprovado ontem pelo Congresso, que estabeleceu que um político, mesmo que ele receba condenações sucessivas, só pode ficar impedido de disputar eleições por no máximo 12 anos, Arruda terá cumprido essa regra no dia 9 de julho de 2026. Isso porque a primeira condenação colegiada de Arruda aconteceu no dia 9 de julho de 2014, quando o Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) condenou, em segunda instância, ele e a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN) por improbidade administrativa. A ação é referente à operação Caixa de Pandora, que investigou o suposto esquema de corrupção que ficou conhecido como mensalão do DEM.
De acordo com a Lei Eleitoral vigente e pelas resoluções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os partidos terão de 20 de julho a 5 de agosto de 2026 para a realização de convenções destinadas a deliberar sobre coligações e a escolher candidatas e candidatos a presidente e vice-presidente da República, governador e vice-governador, senador e respectivos suplentes, deputado federal, deputado estadual e distrital.
Ou seja, por um pequeno lapso de tempo (de menos de um mês), José Roberto Arruda estará apto a disputar qualquer um desses cargos que estarão sendo disputados. Mas ele tem um recall eleitoral gigantesco (traduzindo: ele está na memória dos eleitores do DF) para concorrer ao Palácio do Buriti.
Segundo apuração de “Brasilianas”, há pesquisas que indicam que Arruda tem 15% de intenção de voto espontâneo (naquele em que não é apresentada uma lista de candidatos ao eleitor). O nome dele é mais forte sobretudo nas classes D e E – que representam importante contingente eleitoral e são os chamados “órfãos de Roriz”.
Para relembrar: Arruda foi secretário de Obras do governador Joaquim Roriz (que teve mandatos entre 1988 e 2006) e é um dos “herdeiros políticos” do mais popular governante do DF, desde JK.
Izalci vota a favor da mudança
Nesta última votação do PLP 192/2023, dentre os integrantes da bancada do DF apenas o senador Izalci Lucas (PL) votou a favor das mudanças. As duas senadoras, Leila Barros (PDT) e Damares Alves (Republicanos) votaram contra.
No caso de Damares, o voto contrário atende aos interesses da amiga Celina Leão, atual vice-governadora do DF, filiada ao PP. Ela é potencial candidata ao GDF, caso se confirme a intenção do governador Ibaneis Rocha (MDB) de se desfiliar do cargo em abril do ano que vem, para concorrer ao Senado.
Com a possível participação de Arruda no pleito de 2026, se ele concorrer ao Palácio do Buriti será um problema para Celina. Se ele concorrer ao Senado, será um problema para Ibaneis Rocha. O “melhor dos mundos” para os dois – e também para a oposição, hoje liderada por Ricardo Capelli (PSB) – é Arruda concorrer à Câmara dos Deputados (são oito vagas), pois seria um puxador de votos – levando consigo mais deputados que estiverem na mesma legenda ou coligação dele.

Articulação contra a aprovação
O jornal “Valor Econômico” revelou na última segunda-feira que tanto Ibaneis Rocha quanto Celina Leão trabalharam para que os senadores do MDB e do PP, partido dos dois mandatários do GDF, votassem contra as mudanças na Ficha Limpa. Ambos negaram que tenham feito tal articulação, mas o jornal manteve a apuração.
Ibaneis teria telefonado aos senadores do MDB e Celina teria se reunido com o presidente de seu partido, Ciro Nogueira (PI).
Ontem, dos 12 senadores do MDB quatro votaram a favor da mudança. No PP, todos os oito senadores votaram pelas mudanças – inclusive o próprio Ciro Nogueira.
A votação de ontem teve apoio, ainda, de maioria dos partidos de esquerda (como o PT e o PSB) e de direita (PL).