Exposição de Júlia dos Santos Baptista e alunos de três escolas públicas apresenta visões infantis que reimaginam o conceito de monumento a partir das periferias do DF
A artista visual e educadora Júlia dos Santos Baptista apresenta a exposição “Brasília: mensagens monumentais”, um projeto que convida o público a repensar o papel dos monumentos urbanos a partir do olhar de crianças das comunidades periféricas do Distrito Federal em diálogo com obras autorais.
O projeto foi desenvolvido nas regiões administrativas, que geralmente têm pouco ou nenhum acesso aos monumentos de Brasília enquanto capital. Após a aula sobre o patrimônio arquitetônico, em que a artista utilizou seus quadros como exemplo e compartilhou sua experiência como artista, convidou os alunos a criarem um monumento para suas cidades, colocando-os no papel de artistas e arquitetos, e assumindo suas posições naturais de criadores.
As oficinas são realizadas anualmente com estudantes de escolas públicas em regiões como Ceilândia, Estrutural e Riacho Fundo etc. Até o momento, o projeto voluntario já atendeu aproximadamente 8 mil alunos. A atividade transformou-se em um exercício de reflexão sobre pertencimento, identidade e futuro, ao mesmo tempo em que revelou os desejos e necessidades dessas comunidades, especialmente nas periferias, onde esses espaços simbólicos e de convivência são tão escassos.
A mostra propõe reflexões radicais e sensíveis da monumentalidade de Brasília. “Para muitas dessas crianças, o Eixo Monumental é tão abstrato quanto uma cidade estrangeira. Brasília é recriada a partir do olhar delas, onde o monumental se redefine em função de suas necessidades, sonhos e realidades cotidianas”, afirma Júlia, nascida no Núcleo Bandeirante, invasão da Vila do IAPI, e atualmente vive e trabalha em Amsterdã e Brasília.

Monumentos que nascem do afeto e da imaginação
As obras expostas, que vão muito além de simples desenhos, expressam visões singulares de mundo: árvores que frutificam barras de chocolate, caixa de dinheiro infinito que lembra a obra de Marc Rothko, cavernas de frutas vermelhas, obeliscos habitados por animais. Mais do que fantasia, essas criações traduzem desejos urgentes por abundância, segurança, afeto, pertencimento e conexão com a natureza
A natureza como protagonista
Em muitos dos trabalhos, o meio ambiente assume lugar central. Um córrego transformado em santuário, uma árvore de flores especiais em meio ao concreto, um monumento à biodiversidade com formas inventadas que remetem à Gaudí. “Essas crianças sonham com um mundo mais equilibrado e suas obras refletem uma consciência ecológica poderosa e instintiva”, observa a artista. Por meio da arte, as crianças já nos alertam sobre as mudanças climáticas, compartilhando sua imaginação, cuidado e esperança por um amanhã sustentável. Os espaços verdes vão além da estética: são instrumentos vivos que tornam o ar mais puro, o ambiente mais fresco e a vida mais saudável para todos.
Do distanciamento à apropriação
“Brasília é um museu a céu aberto, mas o que esses monumentos representam para as novas gerações periféricas?”, questiona Júlia. Ao provocar essa reflexão nas oficinas, ela propõe um deslocamento: do monumento impositivo ao espaço simbólico de troca, imaginação e pertencimento. “Elas não querem apenas contemplar. Querem interagir, brincar, se apropriar. Isso nos obriga a repensar o papel do monumento no espaço urbano.”
Um convite à escuta e à ressignificação
STF | Foto: Divulgação/Acervo
Mais do que uma celebração, Brasília: mensagens monumentais é um convite à escuta. As crianças, protagonistas desta mostra, oferecem visões de um futuro possível onde a monumentalidade nasce do coletivo, do afeto e da imaginação. “Brasília pode, e deve, ser vivida a partir das vozes que a habitam”, conclui Júlia.

Serviço
Exposição “Brasília: mensagens monumentais”
Período da exposição: de 24 de outubro a 23 de novembro
Museu Nacional da República Brasília DF
Visitação Terça-feira a domingo 9:00 às 18:30
www.juliadossantosbaptista.com
@juliadosantosbaptista
@apilastra