Dados da Secretaria de Segurança Pública mostram que jovens são as principais vítimas e que os ataques se concentram nos fins de semana, à noite, em regiões periféricas
Em 2024, o Distrito Federal registrou 20.867 ocorrências de violência doméstica ou familiar contra mulheres. O número, consolidado pela Secretaria de Segurança Pública do DF, revela não apenas a persistência do problema, mas também padrões preocupantes que exigem atenção das autoridades e da sociedade.
Os números de 2024 não apenas escancaram a dimensão da violência contra a mulher no Distrito Federal, mas também revelam a urgência de políticas públicas que atuem na prevenção, acolhimento e responsabilização dos agressores.
A reincidência, o perfil das vítimas e o contexto dos crimes mostram que não se trata de episódios isolados, mas de uma estrutura de violência que se perpetua dentro de casa, longe dos olhos do público — e muitas vezes do Estado.
A maioria das vítimas — 63,8% — tem entre 18 e 39 anos, faixa etária que representa mulheres em plena fase produtiva, muitas delas mães, trabalhadoras e estudantes. O dado reforça a vulnerabilidade de jovens adultas em ambientes que deveriam ser seguros: o próprio lar.
Os agressores, em sua maioria homens (91,8%), também pertencem à mesma faixa etária predominante das vítimas. Isso sugere que os casos de violência estão concentrados em relações afetivas entre adultos jovens, muitas vezes marcadas por ciúmes, controle e histórico de agressões anteriores. De fato, 12,8% das mulheres agredidas em 2024 já haviam sido vítimas em outros momentos, o que aponta para um ciclo de violência que se repete e se intensifica.
Outro dado que chama atenção é o horário e o dia da semana em que os crimes ocorrem. Cerca de 36% das agressões foram registradas aos sábados e domingos, e 34% aconteceram entre 18h e 23h59. Esse padrão indica que os momentos de convivência familiar, especialmente nos fins de semana, são também os mais perigosos para muitas mulheres.
Geograficamente, os casos se concentram em regiões administrativas como Ceilândia, Samambaia e Planaltina, áreas com alta densidade populacional e desafios socioeconômicos. Juntas, essas localidades respondem por 66% das ocorrências registradas em todo o DF.
A Lei Maria da Penha, embora conhecida por parte da população, ainda precisa ser fortalecida em sua aplicação. Campanhas educativas, ampliação da rede de apoio e investimento em delegacias especializadas são caminhos possíveis para enfrentar esse cenário.