Investimento por habitante segue abaixo do ideal para universalização dos serviços e o DF precisa investir mais para avançar. Levantamento é do Instituto Trata Brasil
Embora Brasília tenha caído quatro posições no ranking nacional de Saneamento 2025, passando da 27ª para a 31ª posição dentre 100 municípios avaliados em todo o país, com nota 8,82 (dentro de 10 pontos possíveis, só obtido por Campinas, em São Paulo), o Distrito Federal ainda aparece entre os destaques positivos do levantamento anual, divulgado esta semana pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a consultoria GO Associados.
Segundo os dados do Trata Brasil, a Capital Federal está entre as cinco capitais brasileiras que apresentam ao menos 80% de tratamento de esgoto, ao lado de Curitiba (PR), Boa Vista (RR), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA).
O estudo analisa os 100 municípios mais populosos do país com base nos dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SINISA), ano-base 2023. Os resultados mostram que Brasília mantém bons índices de cobertura de água e esgoto, com atendimento total de água superior a 99% e coleta de esgoto também acima de 80%. Esses números colocam o DF em posição de destaque nacional, especialmente entre as capitais.
No entanto, o relatório também aponta que o investimento anual por habitante no DF está abaixo do patamar considerado ideal para a universalização dos serviços, que é de R$ 223,82. Em 2025, Brasília não aparece entre os 12 municípios que investem acima dessa média. A média nacional de investimento em 2023 foi de R$ 103,16 por habitante, abaixo dos R$ 138,68 registrados em 2022. Os 20 municípios com melhor desempenho investiram, em média, R$ 176,39 por habitante entre 2019 e 2023, enquanto os 20 piores investiram apenas R$ 78,40 — cerca de 65% abaixo do necessário.
Apesar de não figurar entre os 20 melhores nem entre os 20 piores municípios no ranking geral, Brasília apresenta estabilidade nos indicadores ao longo dos últimos três anos. O comparativo entre os relatórios de 2023, 2024 e 2025 mostra que o DF não teve variações significativas de posição, o que sugere consistência nos resultados. Por outro lado, essa estabilidade também pode indicar falta de avanço em áreas que ainda demandam atenção, como o investimento em regiões periféricas e rurais.

Estabilidade não deve significar acomodação
A eficiência operacional da capital também se manteve estável. O DF não aparece entre os municípios com maiores perdas na distribuição ou por ligação, o que indica controle técnico adequado. A Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) é apontada como uma das operadoras com melhor desempenho entre as empresas públicas do setor, com gestão eficiente e cobertura elevada.
O relatório reforça que há uma relação direta entre volume de investimento e qualidade dos serviços. Municípios que investem mais tendem a apresentar melhores indicadores de cobertura, tratamento e eficiência. Para o Instituto Trata Brasil, o saneamento básico é um dos pilares da saúde pública e do desenvolvimento urbano. A falta de acesso à água e esgoto impacta diretamente a produtividade, a valorização imobiliária, o turismo e a qualidade de vida da população.
Especialistas alertam que a estabilidade não deve ser confundida com acomodação. “Manter bons índices é importante, mas avançar rumo à universalização exige investimentos contínuos e atenção às áreas menos atendidas”, aponta o relatório. Com metas estabelecidas pelo Novo Marco Legal do Saneamento, o Distrito Federal precisa ampliar sua capacidade de investimento e garantir que os serviços cheguem a toda a população, com qualidade e regularidade.