Área atrás da Rodoferroviária deixará ser do Exército. Os R$ 40 bilhões arrecadados com a venda de 20 mil moradias, antes destinados apenas a obras militares, agora financiarão também o VLT entre o DF e Luziânia e cinco novas ferrovias de passageiros no país
A área que fica atrás da antiga Rodoferroviária, com 4,2 milhões de metros quadrados, deixará de ser de usufruto exclusivo do Exército Brasileiro e a renda obtida com a venda dos terrenos, onde se projetam 20 mil residências para atender a 65 mil pessoas, será também usada pelo Ministério dos Transportes. Estima-se arrecadar até R$ 40 bilhões com essa venda.
A intenção do Governo Lula é viabilizar a construção de seis ferrovias para transporte de passageiros pelo país – uma delas é o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que ligará Brasília a Luziânia (GO), num trajeto de pouco mais de 60 km. Esta obra é estimada em aproximadamente R$ 500 milhões.
A revelação das negociações e do acordo firmado dentro do próprio Governo Federal foi publicado pela “Folha de S.Paulo”, em duas reportagens publicadas ao longo da semana passada. Procurada por “Brasilianas”, a Secretaria do Patrimônio da União (SPU) – ligada ao Ministério da Gestão e Inovação – informa que a área em questão é propriedade da União, atualmente sob gestão do Exército, e que “os órgãos de Governo Federal dialogam sobre o tema”.
O Governo do Distrito Federal (GDF) acompanhou à distância a resolução do litígio que acontecia dentro do próprio Governo Federal há mais de um ano. Indiretamente envolvido, porque tinha acertado uma parceria com o Exército Brasileiro, o GDF agora aguarda novas orientações para se posicionar sobre o que deve fazer.
“O Governo do Distrito Federal não está perdendo nada. Na verdade, o GDF estava atuando como facilitador para aprovar o projeto que o Exército desejava desenvolver e nós colocamos as nossas áreas de governo no sentido de ajudar nesse desenvolvimento, com a possibilidade de o BRB financiar, de a Terracap licitar, se eles assim desejassem comercializar. Mas essa área nunca foi nossa, ela não foi retirada do DF”, explicou à coluna o secretário de Governo do DF, José Humberto Pires.
Área estava com o Exército desde 2006
Desde o começo do Governo Lula, o Ministério dos Transportes vem fazendo pressão para retomar a área, que no começo da construção de Brasília foi destinada a um pátio para ferrovias. Com o passar do tempo, a área ficou ociosa e as duas construções existentes na área – a Estação Rodoferroviária e o Shopping Popular – foram cedidos para usufruto do GDF. Hoje, apenas a antiga estação está cedida ao governo local, e lá funciona, por exemplo, a sede da Agência Distrital de Águas (Adasa).
No final da gestão Lula 1, em 2006, a Secretaria de Patrimônio da União repassou o terreno para o Exército. Há duas décadas, os militares são responsáveis pela vigilância e conservação da área conhecida oficialmente como “Pátio Ferroviário de Brasília”.
Depois, a força militar viu a possibilidade de arrecadar fundos para suas demandas a partir da venda dos terrenos, uma vez que a área que pode ser considerada nobre, pois está a apenas 10 km da Praça dos Três Poderes.
O contrato original com o governo federal não permitia ao Exército construir ou explorar a área comercialmente, mas no governo Bolsonaro, em 2020, os militares receberam o termo de entrega definitivo do terreno, o que viabilizou – entre outras ações – as conversas com o GDF. Em junho de 2021, o governador Ibaneis Rocha (MDB) assinou um protocolo de intenções para que fosse construído o novo bairro.

Venda viabilizará seis ferrovias
Agora, a ideia do Ministério dos Transportes é a de usar a venda dos terrenos – estimada em aproximadamente R$ 40 bilhões – para financiar a construção do VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos) que ligará Brasília a Luziânia (GO), em uma rota de 62 km, mas também outros cinco trajetos de passageiros já desenhados em outras regiões do país.
Em ano eleitoral, este ativo (construção de linhas férreas para atendimento ao transporte de passageiros) é mais um ponto que será utilizado pela campanha de reeleição de Lula.
Além do projeto do DF, a concessão daria apoio financeiro a outros cinco trajetos: Londrina–Maringá (PR); Rio Grande–Pelotas (RS); Fortaleza–Sobral (CE), São Luís–Itapecuru Mirim (MA) e Salvador– Camaçari–Feira de Santana (BA). Todos deverão ter editais de concessão publicados em 2026.
Segundo a Folha de S.Paulo, o acerto feito semana passada prevê que os militares devem ficar com cerca de R$ 3 bilhões para construção da nova Escola de Sargentos do Exército, em Recife (PE), e do Hospital Militar de Área de Brasília.
“O governo federal não é contra a construção das instalações militares, mas entende que não cabe ao Exército definir o destino do terreno. Na prática, em vez de repassar a área ao GDF, o Ministério dos Transportes pretende conceder o espaço, por meio de um leilão, atrelando a exploração imobiliária à construção das ferrovias”, afirmou o jornal, ouvindo fontes do Governo Federal.
“O plano é adotar um modelo conhecido internacionalmente como ‘real estate’, pelo qual a concessão ferroviária é associada ao desenvolvimento urbano e imobiliário no entorno das estações”, completou.