Em três décadas, participação triplicou, mas grupo ainda enfrenta barreiras de inserção e renda. Boletim do IPED-DF revela destaque na força de trabalho no setor de serviços e no trabalho autônomo
O Distrito Federal está envelhecendo — e com isso, passando por transformações significativas em sua estrutura social e econômica. O crescimento contínuo da população idosa vem se refletindo diretamente na dinâmica do mercado de trabalho local. Dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-DF), realizada pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF) em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), revelam que, no biênio 2023–2024, os moradores com 60 anos ou mais já representavam pouco mais de um quinto da população em idade ativa — cerca de 523 mil pessoas.
Desse total, aproximadamente 105 mil idosos (ou 20%) estavam inseridos no mercado de trabalho. Isso significa que, a cada cinco idosos, um ainda trabalha. A proporção desse grupo na força de trabalho aumentou em relação ao biênio anterior, passando de 19,1% para 20%. E o crescimento é ainda mais expressivo quando se observa a evolução histórica: em 1993, os idosos representavam apenas 2% da força de trabalho no DF. Em 2024, esse número triplicou, alcançando 6,2%.
Esse avanço ocorre em um contexto de maior longevidade, redução da taxa de natalidade e ampliação das oportunidades de trabalho voltadas à terceira idade. Segundo a PED-DF, os idosos ocupados estão majoritariamente concentrados no setor de serviços, que responde por 69% das vagas destinadas a essa faixa etária. Em seguida, aparecem o comércio e reparação (16,2%) e a construção civil (6,2%).
Quanto ao tipo de vínculo empregatício, 47,6% dos idosos ocupados são assalariados — sendo 22,8% no setor público e 24,8% no setor privado. No setor privado, 20,7% têm carteira assinada. Além disso, 29,9% atuam como trabalhadores autônomos, 7,8% são empregadores, 8% empregados domésticos e 6,6% ocupam outras posições. O nível de ocupação da população idosa cresceu 9% entre 2022 e 2024, impulsionado principalmente pelo aumento de postos no comércio (alta de 23,1%) e nos serviços (8,1%).

Homens, mulheres e responsabilidades familiares
As mulheres representam a maioria da população idosa no DF, com 60,2% do total. No entanto, entre os idosos que estão economicamente ativos, os homens predominam, correspondendo a 57,4%. Já entre os inativos — grupo que soma cerca de 418 mil pessoas — a principal razão para não trabalhar é a aposentadoria, que responde por 69,9% dos casos. Outros 13,8% estão dedicados exclusivamente aos afazeres domésticos, e 15,5% realizam outras atividades não laborais.
A pesquisa também mostra que a maioria dos idosos inativos já teve experiência anterior de trabalho: 85,9% afirmam ter trabalhado anteriormente, sendo que 72% deixaram ou perderam o último emprego há mais de cinco anos. Além disso, sete em cada dez idosos são os principais responsáveis pelas contas da casa, o que reforça a importância da renda dessa faixa etária para o sustento familiar.
“A gente tem uma relação de dependência importante do rendimento das famílias em relação à renda que vem do trabalho da pessoa idosa”, destaca Francisca Lucena, diretora de Estatística e Pesquisas Socioeconômicas do IPEDF.

Jornada e rendimento
A jornada média semanal dos idosos ocupados é de 39 horas — um pouco menor que a média dos demais grupos etários. O rendimento real mensal médio dessa população foi de R$ 5.778 no último biênio. Já entre os inativos, o valor médio das aposentadorias foi de R$ 5.476, enquanto o das pensões alcançou R$ 3.819.
O envelhecimento populacional é uma realidade irreversível. E com ele vêm novos desafios que exigem atenção, planejamento e ação por parte do poder público. “São muitos os desafios oriundos desta realidade e que tornam imperiosa a implementação de políticas públicas”, aponta o boletim da PED-DF.
Essas políticas devem contemplar áreas como previdência, saúde, mobilidade urbana, mercado de trabalho e renda. A mobilidade, por exemplo, é um dos fatores que mais impactam a rotina da pessoa idosa que trabalha. “Como o Estado vem oferecendo a mobilidade? Seja por meio do transporte público, ampliação do modal para acesso ao trabalho, deslocamento casa-trabalho, melhoria das vias, melhoria das calçadas, rampas. Além disso, cuidados com a saúde, áreas verdes, parques”, afirma Francisca Lucena.
A terceira idade está longe de ser sinônimo de inatividade. No Distrito Federal, ela representa uma força produtiva crescente, que precisa ser reconhecida, valorizada e incluída nas políticas públicas e nos espaços organizacionais. O futuro do trabalho — e da sociedade — passa por ela.