Com os melhores indicadores econômicos do país, o DF revela contrastes sociais marcantes e longos deslocamentos diários para trabalho e estudo
O Distrito Federal se consolida como líder nacional em indicadores de renda, escolaridade e ocupação, segundo dois relatórios que consolidam os dados do Censo Demográfico 2022, divulgados ontem (9) pelo IBGE.
O retrato do Distrito Federal traçado pelo Censo 2022 é o de uma capital que concentra riqueza, escolaridade e infraestrutura educacional, mas que ainda enfrenta desafios estruturais em mobilidade, equidade de gênero e raça. Os dados revelam que, embora Brasília esteja à frente do país em diversos indicadores, o acesso a esses avanços não é universal.
Os contrastes entre renda elevada e trajetos longos, entre escolaridade alta e desigualdade racial, entre excelência e exclusão, exigem políticas públicas que transformem indicadores em qualidade de vida — para todos os brasilienses.
Vamos aos dados:
Renda alta, desigualdade persistente
Com rendimento médio mensal de R$ 4.714 e rendimento domiciliar per capita de R$ 2.999, Brasília supera todas as unidades da federação, deixando para trás estados como Santa Catarina (R$ 2.220), São Paulo (R$ 2.093) e muito acima da média nacional de R$ 2.851 (rendimento médio mensal) e R$ 1.638 (rendimento domiciliar per capita), respectivamente.
Em Brasília, o nível de ocupação também é elevado: 60,4% da população de 14 anos ou mais está ocupada, atrás apenas de Santa Catarina (63,5%) e bem acima da média brasileira (53,5%). A capital federal também se destaca pela escolaridade da população ocupada: 43,2% das mulheres e 34,5% dos homens têm ensino superior completo, enquanto no Brasil os percentuais são de 28,9% e 17,3%, respectivamente. Essa qualificação se reflete na presença feminina em áreas técnicas e intelectuais, onde elas representam 60,8% dos profissionais das ciências e intelectuais.
Apesar dos indicadores positivos, o DF convive com desigualdades marcantes. A diferença de rendimento entre homens e mulheres é de 24,8%, com os homens ganhando em média R$ 5.200 e as mulheres R$ 4.166. O recorte por cor ou raça revela disparidades ainda mais profundas: pessoas brancas têm rendimento médio de R$ 6.469, enquanto pessoas pretas recebem R$ 3.658 e pardas R$ 3.596. A população amarela, embora numericamente menor, apresenta o maior rendimento médio: R$ 8.336.
Essas desigualdades também se refletem na escolaridade. Mais da metade dos ocupados de cor amarela (52,1%) têm ensino superior completo, enquanto entre os pretos e pardos esse percentual é de 27% e 26%, respectivamente. No outro extremo, 25,5% dos indígenas, 19% dos pretos e 15,5% dos pardos não possuem sequer o ensino fundamental completo.
Além disso, 7,9% dos moradores do DF vivem com rendimento domiciliar per capita de até 1/4 de salário mínimo, o que revela bolsões de vulnerabilidade em meio à abundância. Embora esse percentual seja inferior à média nacional (13,3%), ele ainda representa uma parcela significativa da população brasiliense.

Mobilidade urbana: tempo e desigualdade
A mobilidade urbana é outro ponto de contraste. Segundo o Censo, 32% dos trabalhadores que se deslocam fora de casa gastam entre 30 minutos e uma hora no trajeto, e mais de 10 mil pessoas enfrentam deslocamentos superiores a duas horas diariamente — colocando Brasília em 12º lugar entre os municípios com maior número de deslocamentos extremos.
O automóvel é o principal meio de transporte para o trabalho no DF, utilizado por 46,3% da população ocupada, o segundo maior percentual do país, atrás apenas de Santa Catarina (48%). A média nacional é de 32,3%.
Já o ônibus é usado por 32,9% dos brasilienses, acima da média nacional (21,4%) e atrás apenas do Rio de Janeiro (35,8%).
Por outro lado, o uso de bicicleta (2,4%) e motocicleta (3,8%) no DF está entre os menores do país. Estados como Amapá (17,4%) e Acre (13,3%) lideram no uso da bicicleta, enquanto o Norte e o Nordeste concentram os maiores percentuais de deslocamento por motocicleta — 28,5% e 26%, respectivamente.
A desigualdade racial também se manifesta na mobilidade: 59% das pessoas brancas usam carro para ir ao trabalho, enquanto 41,6% das pessoas pretas dependem do transporte coletivo. Entre os pardos, há equilíbrio: 39,4% usam automóvel e 37,9% ônibus. O acesso ao transporte está diretamente ligado à renda e à escolaridade, com os mais instruídos predominando nos meios individuais motorizados.

Educação e deslocamento para estudo
Brasília também se destaca por manter a maioria dos seus estudantes dentro do próprio território: 97,2% estudam no DF, o maior índice do país. Em comparação, Goiás tem 8,9% dos estudantes se deslocando para outros municípios, e Mato Grosso do Sul, 5,1%. A capital federal oferece infraestrutura educacional suficiente para atender sua população, especialmente nos níveis superiores.
A relação entre deslocamento e renda também é evidente: quanto maior o rendimento domiciliar per capita, maior a tendência de deslocamento para outros municípios ou países. No Brasil, apenas 0,1% dos estudantes se deslocam para o exterior, mas esse percentual é mais alto entre populações de cor amarela e em regiões de fronteira, como o Sul e o Centro-Oeste.