Brasilienses viajaram mais que qualquer morador de outro Estado, com destaque para viagens para lazer, uso do avião, hospedagem em hotéis e os maiores gastos médios do país. Pesquisa do IBGE revela perfil sofisticado e crescente do turismo na capital federal
Com infraestrutura robusta, alto poder de consumo e vocação para o lazer, o Distrito Federal se consolidou como o grande protagonista do turismo doméstico brasileiro em 2024, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) – Módulo Turismo, divulgados ontem (2) pelo IBGE.
Brasília tornou-se um dos principais polos turísticos do país — tanto como origem quanto como destino. Os dados da pesquisa revelam não apenas o crescimento do setor, mas também uma mudança no perfil do turista brasiliense, cada vez mais exigente, conectado e disposto a investir em experiências de qualidade.

Brasiliense é o que mais viaja
Segundo dados , a capital federal registrou o maior percentual de domicílios com ocorrência de viagens no país: 26,7%. Esse índice supera o de todas as outras unidades da federação, como Tocantins (26,6%) e Paraná (26,5%), e representa um avanço de 0,9 ponto percentual em relação a 2023.
Esse crescimento é parte de uma tendência contínua: desde 2020, o número de domicílios brasilienses com viagens vem aumentando de forma consistente. Em 2020, apenas 10,3% dos domicílios haviam registrado viagens; em 2021, esse número saltou para 17,6%, chegando a 25,8% em 2023 e culminando nos 26,7% atuais.
Além da alta taxa de ocorrência, o número absoluto de viagens também cresceu. Foram estimadas 393 mil viagens realizadas por moradores do Distrito Federal em 2024, ante 352 mil no ano anterior. A maioria dessas viagens teve finalidade pessoal (80%), embora esse percentual tenha sido o menor da série histórica, indicando uma leve ampliação da motivação profissional.
Dentro das viagens pessoais, os principais motivos foram lazer (50,1%) e visita ou participação em eventos com familiares e amigos (41,2%). O DF ocupa o terceiro lugar nacional em viagens de lazer, atrás apenas do Rio de Janeiro (58,7%) e São Paulo (51,8%), e o segundo lugar em viagens motivadas por encontros familiares, ficando atrás apenas do Amapá (42,6%).
Avião x carro
Uma das mudanças mais significativas observadas em 2024 foi a preferência pelo meio de transporte. Enquanto em 2023 o carro particular ou de empresa era o principal meio utilizado (42,3%), em 2024 o avião assumiu a liderança, sendo utilizado em 46,3% das viagens — o maior percentual entre todos os estados brasileiros. Essa mudança reflete não apenas a infraestrutura aérea da capital, mas também o perfil mais sofisticado e de maior poder aquisitivo dos viajantes brasilienses.
Vale lembrar que o Aeroporto JK é o terceiro terminal aéreo mais movimentado do Brasil, com movimento de cerca de 15 milhões de passageiros durante todo o ano passado.
No quesito hospedagem, os moradores do DF também se destacaram. Embora a casa de parentes ou amigos ainda seja o local mais frequente (43,8%), os hotéis, resorts e flats foram utilizados em 32,4% das viagens — o maior índice entre as unidades da federação. Pousadas (9,5%), imóveis por temporada (5,9%) e imóveis próprios (2,6%) também figuraram entre as opções, enquanto a categoria “outros” (que inclui albergues, hostels, campings e casos sem hospedagem) representou 5,9%.

Altos gastos x pouco dinheiro
O perfil de consumo dos viajantes do Distrito Federal é outro ponto de destaque. O gasto médio por viagem nacional com pernoite foi de R$ 3.090, o maior do país, superando em mais de duas vezes a média nacional de R$ 1.451. Como destino, o DF recebeu R$ 326,7 milhões em gastos turísticos em 2024, um aumento de 32% em relação ao ano anterior. O gasto diário per capita foi de R$ 362, ficando atrás apenas de Alagoas (R$ 366).
Esses gastos variam significativamente conforme o rendimento mensal domiciliar per capita. Viajantes com renda inferior a meio salário mínimo gastaram, em média, R$ 1.069 por viagem, enquanto aqueles com renda superior a quatro salários mínimos gastaram R$ 4.251 — quase quatro vezes mais. Ambos os grupos apresentaram aumento nos gastos em relação a 2023, com destaque para o crescimento de 22,6% entre os viajantes de menor renda.
Apesar dos números expressivos, a pesquisa também revelou que 799 mil domicílios brasilienses não realizaram viagens em 2024. Em 49,9% desses casos, a principal barreira foi a falta de dinheiro, seguida pela falta de tempo (22,4%). Outros motivos incluíram problemas de saúde (4,1%), falta de interesse (7,4%), ausência de necessidade (7,4%) e outras prioridades (7,7%).