O governador Ibaneis Rocha puxou para si a tarefa de conversar com os partidos aliados de seu governo a fim de evitar, a qualquer custo, que o ex-governador Arruda venha concorrer em 2026 pelo Palácio do Buriti contra a vice Celina Leão.
E Arruda, que (ainda) segue inelegível, já aparece em segundo lugar em todas as pesquisas espontâneas para o GDF
Até a próxima segunda-feira, dia 29, o presidente Lula terá de decidir se sanciona na íntegra, com vetos parciais ou com veto total o Projeto de Lei Complementar 192 de 2023, aprovado no início deste mês pelo Congresso Nacional, que altera a Lei Complementar 64/1990 (popularmente conhecida como Lei das Inelegibilidades) e a lei 9.504/1997 (a Lei das Eleições).
O resultado prático desta mudança que foi proposta pelos deputados e senadores é um só: alteração na contagem de prazo para que uma pessoa deixe de ser inelegível, dentro das regras da chamada “Lei da Ficha Limpa”.
No caso do Distrito Federal, esta mudança (se sancionada por Lula) terá um efeito-bomba: traz de volta à cena política o ex-governador José Roberto Arruda, que terá todas as suas condenações e punições reunidas numa nova regra, que em resumo diz o seguinte: o candidato volta a ter seus direitos políticos e pode disputar eleições após 12 anos da primeira condenação por um colegiado.
Assim, Arruda terá cumprido essa nova regra no dia 9 de julho de 2026. Isso porque a primeira condenação colegiada de Arruda aconteceu no dia 9 de julho de 2014, quando o Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) condenou, em segunda instância, ele e a então deputada federal Jaqueline Roriz (PMN) por improbidade administrativa. A ação é referente à operação Caixa de Pandora, que investigou o suposto esquema de corrupção que ficou conhecido como mensalão do DEM.
De acordo com a Lei Eleitoral vigente e pelas resoluções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os partidos terão de 20 de julho a 5 de agosto de 2026 para a realização de convenções destinadas a deliberar sobre coligações e a escolher candidatas e candidatos a presidente e vice-presidente da República, a governador e vice-governador, a senador e respectivos suplentes, a deputado federal, a deputado estadual ou deputados distritais (no caso do DF).
Ou seja: por um pequeno lapso de tempo (de menos de um mês), José Roberto Arruda (que está filiado ao PL desde 2013) estará apto a disputar qualquer um desses cargos que estarão sendo disputados pelos partidos e por seus filiados.
(foto 02) O presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto | Foto: Divulgação/PL
Ibaneis foi falar sobre Arruda com o PL
E como o nome de José Roberto Arruda, que segue ainda inelegível e sequer participou das últimas cinco disputas ao Palácio do Buriti, continua aparecendo em segundo lugar em todas as pesquisas feitas para sondar os candidatos para o Governo do Distrito Federal, com cerca de 15% a 19% de intenções espontâneas de voto (quando Celina Leão aparece com números entre 23% e 32%), essa possibilidade de o ex-governador voltar para a disputa ao Palácio do Buriti levou o atual titular, Ibaneis Rocha, a conversar com todos os partidos.
A derradeira rodada de conversas foi na última terça-feira, quando Ibaneis encontrou-se com o presidente Nacional do PL, Valdemar da Costa Neto. “Brasilianas” apurou que foi um encontro protocolar, mas o governador do DF saiu de lá confiante de que o PL não dará espaço para que Arruda dispute o Palácio do Buriti.
Hoje, o nome que se apresenta como pré-candidato do PL é o senador Izalci Lucas, que após 27 anos deixou o PSDB e se filiou à nova legenda em março do ano passado. É “cristão novo no PL”, como se diz na política. Nas pesquisas, pontua entre 6% e 9%.
A pauta principal da conversa – segundo apurou esta coluna – foi a busca de apoio do Partido Liberal à candidatura de Celina Leão em 2026. Por óbvio, Ibaneis queria obter de Valdemar garantias de que, se retornar, Arruda não disputará o Palácio do Buriti.
Segundo um interlocutor ouvido por “Brasilianas”, Valdemar disse que Arruda (se for o caso) só disputaria uma vaga para a Câmara Federal (são 8 vagas em disputa ao todo). “Chance zero de ele sair a governador”, teria afirmado o presidente do PL Nacional. “Espero que o Arruda tenha juízo”, teria completado o cacique do PL na conversa com Ibaneis.

Valdemar fez promessas, mas sem ouvir a bancada
Porém, essa garantia dada por Valdemar a Ibaneis não encontra respaldo na bancada do partido no DF. Na última terça-feira, o deputado federal Alberto Fraga (PL) usou o Plenário da Câmara dos Deputados para declarar, em alto e bom som: “Tenho visto que o Ibaneis vai ter uma reunião com Valdemar. Primeiro, eu queria dizer que o PL não está à venda. Portanto, eu duvido que Valdemar vai deixar de ouvir os seus filiados para conversar”
E completou: “O fato é que o ex-governador Arruda está crescendo muito nas pesquisas, e isto está incomodando. Hoje, ele já e o segundo lugar, isso sem anunciar sua candidatura. Então é bem provável que o PL tenha um candidato competitivo ao governo. E isso deve estar incomodando as pessoas”, disse Fraga.
“O crescimento de Arruda nas urnas é notório. Onde você anda, por onde você passa, todos querem a volta dele. Então, o governador Ibaneis, preocupado com esse crescimento, está se adiantando para conversar com o Valdemar”, completou o parlamentar, que está em seu quinto mandato federal. E finalizou: “Valdemar, ouça primeiro os seus candidatos!”
Na conversa, Valdemar assegurou ainda a Ibaneis que a atual presidente do partido no DF e deputada federal Bia Kicis será candidata à reeleição na Câmara. Essa fala de Valdemar é contrária a uma afirmação da própria deputada.
Exatamente há uma semana, Bia Kicis afirmou: “Eu e Michelle (Bolsonaro) seremos candidatas do PL ao Senado pelo DF”. Essa intenção de Bia Kicis de tentar o Senado atrapalha os planos do próprio Ibaneis Rocha, que é pré-candidato a senador pelo MDB. Ele aparece com 30% das intenções (em média), Michele Bolsonaro lidera todos os cenários com mais de 34% e Bia Kicis aparece com 14%.

Ibaneis tratou de apoio a ele e a Celina com PSD
Antes do encontro com o PL, Ibaneis Rocha tratou de assegurar o apoio do PSD, que nacionalmente é presidido pelo ex-senador Gilberto Kassab (SP), atual Secretário Estadual de Governo e Relações Institucionais do Estado de São Paulo. Em Brasília, o partido tem como presidente o ex-governador Paulo Octávio.
“Brasilianas” apurou junto a um interlocutor de Ibaneis Rocha, no Palácio do Buriti, que o atual governador andava bastante irritado com Paulo Octávio e chegou a ameaçar boicotar sua presença no encontro da Lide, realizado em Washington no início do mês. Paulo Octávio é o presidente da Lide em Brasília.
Ibaneis ameaçou ainda retirar do cargo o presidente do Metrô-DF, Handerson Cabral – que é uma indicação pessoal do empresário. Também disse que iria retirar os órgãos públicos do DF que estão instalados em prédios alugados de Paulo Octávio, tal como a sede da Secretaria de Saúde, no Setor de Rádio e TV Norte.
Segundo apurou a coluna, Paulo Octávio tratou de reunir os filiados e, além de exibir vídeos de Celina Leão e de Ibaneis Rocha, garantiu que o PSD no DF vai apoiá-los.
“Isso contrariou a grande maioria dos filiados. Não é essa a expectativa do partido”, afirmou um filiado da legenda a esta coluna. “Mas o Paulo Octávio conseguiu o que queria, que era não contrariar o atual governo, pois ele tem muitos interesses com o GDF”.
E, na última quarta-feira, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Distrito Federal (Seduh) aprovaram aumento de 100% na área construída do Brasília Palace Hotel, que fica ao lado do Palácio da Alvorada, e que pertence a Paulo Octávio.
Essa aprovação pelos órgãos técnicos do GDF aconteceu apesar de a Comissão de Desenvolvimento Econômico e Sustentável, Ciência, Tecnologia, Meio Ambiente e Turismo da Câmara Legislativa do DF ter afirmado, em agosto, ser contrária a esta mudança.

Ibaneis já havia conseguido driblar o Republicanos
Outra “ameaça” à candidatura de Celina Leão, a do atual deputado federal Fred Linhares (Republicanos), já havia sido resolvida por Ibaneis no mês passado. Mas as tratativas começaram bem antes, quando a hipótese Arruda sequer era cogitada. Sem qualquer justificativa prévia, Ibaneis Rocha exonerou em maio o então secretário de Ciência e Tecnologia, Rafael Reisman – indicação de Fred Linhares.
A manobra tomou Linhares de surpresa e, após uma boa estratégia partidária, o processo foi contornado em setembro, com a nomeação de outra indicação do deputado à secretaria.
Antes, no entanto, Ibaneis trabalhou para que, no início de setembro, houvesse a renúncia “por motivos políticos” do então presidente estadual do Republicanos, Wanderley Tavares da Silva, que estava na liderança local do partido havia 12 anos (dos 20 anos de idade que o Republicanos tem). Ele era o grande defensor da candidatura de Linhares ao GDF.
Coube ao presidente Nacional da sigla, deputado Marcos Pereira, indicar o novo presidente do Republicanos no DF: Joaquim Mauro, braço direito dele na condução partidária. Pereira também fechou acordo com Ibaneis Rocha e tratou de filiar o atual chefe da Casa Civil do GDF, Gustavo Rocha – que, de pronto, já foi indicado para ser o candidato a vice-governador na chapa a ser encabeçada por Celina Leão.
Com essa manobra, Ibaneis afastou o “risco Fred Linhares” do caminho (ele também aparecia muito bem pontuado nas pesquisas eleitorais para ocupar o Palácio do Buriti) e resolveu uma “dívida de gratidão” com Gustavo Rocha, que entre tantas outras ações o ajudou a pacificar as relações entre o GDF e o Supremo Tribunal Federal após o 8 de Janeiro.

Ibaneis trouxe mais reforços ao PP
Mesmo na legenda da vice-governadora, Celina Leão, Ibaneis Rocha tratou de trazer reforços e evitar desgastes futuros. Entre as ações, após acerto que envolveu o presidente nacional da legenda, Ciro Nogueira, o PP abriu espaço para o ex-senador Luiz Estevão emplacar o seu neto de 21 anos, Luiz Eduardo Estevão Lira. Com isso, Ibaneis assegurou o apoio institucional do dono do site Metrópoles e de outra série de empresas – como os famigerados painéis de LED da Metrópoles Digital, que emporcalham a cidade – à campanha de Celina.
A intenção de Luiz Estevão é que seu neto seja um dos 24 deputados distritais que passem a ocupar a Câmara Legislativa do DF a partir de 2027. Para isso, apesar de ser recém-filiado, o neto do empresário já foi nomeado como presidente do PP Jovem, e tirou do cargo Pablo Valente, que tem o histórico de 17 anos de militância na Juventude Progressista, e por quase nove ocupou a presidência da JP-DF, como tesoureiro e vice presidente nacional.
Além de Luiz Eduardo, também foi filiado ao PP no mesmo evento o pai dele, o empresário Eduardo Lira – que, por sua vez, é filho do ex-senador Raimundo Lira (que representou a Paraíba entre 2015 e 2018 pelo MDB). Eduardo Lira quer ser candidato a deputado federal pelo mesmo partido de Celina.