Últimas chances para assistir ao espetáculo dirigido por Renato Linhares, em apresentações gratuitas no CCBB e no Eixão do Lazer
Após três finais de semana de ocupações em diferentes pontos do Distrito Federal, a performance circense “Mão” chega à reta final. Dirigida pelo artista gaúcho Renato Linhares (Intrépida Trupe e Foguetes Maravilha), a intervenção urbana mistura circo, dança e artes visuais em um ritual coletivo de construção.
As últimas apresentações acontecem neste sábado (20) às 16h, no CCBB Brasília, e no domingo (21) às 15h30, no Eixão do Lazer, altura da 102 Sul. A entrada é gratuita.
Em tempo real, os performers Adelly Costantini, Fernanda Más, Carolina Cony, Daniel Elias, Ernesto Poittevin, Fábio Freitas e Marcelo Callado erguem diante do público uma estrutura de ferro e madeira de oito metros de altura. Entre acrobacias e gestos coreografados, o espetáculo convida a refletir sobre a força coletiva do trabalho artesanal que sustenta o circo — e sobre o instante que antecede o salto, o voo e o “frio na barriga”.
“A ideia era criar uma intervenção que revelasse a mão circense: o toque, a construção, a ação coletiva do artista de circo. Uma obra articulada, inconsciente e extrema, como a própria mão”, explica Renato Linhares, performer, coreógrafo e encenador responsável pela direção.
O resultado, segundo ele, é uma coreografia operária que revela sons, encaixes e estruturas invisíveis que antecedem o espetáculo. “É um ritual que dá a ver a espessura do ferro que segura a lona, o peso da estaca que a mantém de pé, suas equações estruturais, seus barulhos não musicais, seus encaixes únicos, e aquilo tudo que vem antes do salto, do voo, do frio na barriga”, completa.
Construção em cena
Em cena, os performers executam movimentos ordinários de uma construção, como aparafusar e encaixar. Durante a edificação, os artistas se equilibram em uma enorme rampa de madeira, com saltos, acrobacias e giros, possibilitando aos passantes uma espécie de viagem no tempo.
“Decidimos levantar uma estrutura em cena e fazer do deslocamento de tubos, ferros, porcas e parafusos uma experiência concreta para poder viajar no tempo, pois construir uma estrutura em um espaço de passagem público pertence à cultura arcaica. Por séculos e séculos pequenos e grandes mundos utópicos foram construídos e destruídos a olhos nus. Pontes, torres, pirâmides, casas, cidades inteiras edificadas e demolidas pelo tempo e pelos homens. Entre grandes incêndios e guerras territoriais, por vezes, vislumbramos distraídos a chegada do circo. Entre colonizações e evoluções tecnológicas, sob nossos olhos, e no decorrer do tempo, vimos o circo se montar e partir, deixando um efêmero rastro de truques e milagres”, comenta Renato Linhares.
Ao final da performance, a grande estrutura é tombada, invertendo seu ângulo, dando-lhe uma nova forma. Inúmeras reações invadem a plateia, que é surpreendida ao ver o gigante objeto, construído diante de seus olhos, sendo deitado no chão. Uma imensa tela verde é usada para cobrir a estrutura, e o interior da tela é preenchido pela aparição de uma fumaça vermelha, que perpassa por ela atingindo o céu. O espetáculo finaliza. Os artistas partem. Ao som de uma música épica, deixam na praça uma enorme escultura. O circo.
Segundo Adelly – idealizadora do projeto, produtora e uma das performers – Mão é uma obra multidisciplinar, feita a muitas mãos, por circenses, bailarinos, músicos e arquitetos. “Em cena, discutimos o ‘trabalho’, a obra edificada fora da galeria, a mão de quem faz a obra, a cidade em obra. É circo em Happening ou uma ode aos trabalhadores”, acrescenta.
Desde a estreia em 2016, Mão já circulou por diversos tipos de público em museus, avenidas, escolas, comunidades, centros urbanos, periferias e também em festivais de circo, dança e performance dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.
“É uma obra democrática. Sua passagem cria a expectativa ao risco, ao acerto, à possível falha humana. Gostamos da galeria enquanto espaço de exposição de uma obra. Mas gostamos de levar a obra também para avenidas ou parques. Diante dos diversos cenários, pequenas adaptações sempre podem ocorrer. Muitas vezes invadimos a praça dentro de um caminhão, outras vezes o caminhão não tem acesso. O único cenário ideal é que haja um solo firme para erguer a obra”, conclui Adelly.