O acervo, desde arquitetônico, paisagístico e artístico existente na Fazendinha JK se assemelha, e muito, a tudo que é tombado como Patrimônio Cultural da Humanidade em Brasília. Sonho dos proprietários é ela ser tombada e preservada
O casal Antônio e Rosana Servo reside há 33 anos na Fazendinha JK. Ele, o caçula de cinco filhos, herdou a terra que havia sido comprada pelo pai dele diretamente de Dona Sarah Kubitschek, em 1984. Portanto, há 41 anos ele e sua família convivem em meio às memórias de Juscelino e de Sarah Kubistchek.
“Preservamos tudo exatamente como o meu sogro recebeu de Dona Sarah”, contou à “Brasilianas” Rosana Servo.
Eles chamam a casa em que morou JK de “mansão” e, dela, não usam nenhuma estrutura. “A gente não usa a cozinha nem o banheiro. Ninguém, nem da família, senta nos sofás. Ninguém usa as mesas, não toca em nada. É tudo restrito até mesmo para a nossa família”, explica.
“A Fazendinha é a nossa paixão, é a dedicação de uma vida. Meu marido é restaurador e só Deus sabe como conseguimos manter tudo isso aqui, intacto e preservado, sem ajuda oficial nenhuma. Sabemos que temos um acervo fantástico. Mas não acreditamos que ninguém, nenhuma entidade, se interesse por isso”, conta a gestora.
“Nosso sonho é que haja ‘um pouquinho só’ de boa vontade dos governantes e que a gente consiga tombar todo esse patrimônio, tanto pelo seu valor arquitetônico, paisagístico e artístico, como pela representatividade e importância histórica dela, do que representa para Brasília e para o seu criador, Juscelino.

Rosana Servo enumera algumas “preciosidades” do lugar:
. O projeto da casa principal é de Oscar Niemeyer e é seu único obra edificada numa área rural, no mundo.
. No mirante da fazenda, após a morte de JK, o jornalista Adolfo Bloch (amigo de JK) reuniu doações e construiu lá a réplica da capela do Palácio da Alvorada, outro projeto de Niemeyer. JK sonhava reproduzir a capela e dedicá-la à sua mãe, Júlia Kubitscheck, mas só conseguiu erguer um cruzeiro (que ainda está lá).
. Dentro da capela, a imagem de Santa Julia foi feita por Alfredo Ceschiatti, o mesmo artista que fez os anjos da Catedral de Brasília, entre outras obras únicas.
. Os vitrais da capela são de Marianne Peretti, a mesma que assina os vitrais da Catedral e de outros monumentos de Brasília, como o Panteão da Pátria.
. O paisagismo em torno da casa é de Burle Marx, o mesmo que assina os jardins da Capital Federal, como os do Palácio do Itamaraty e da Câmara dos Deputados.
. A biblioteca possui 2.800 livros que compunham o acervo pessoal de JK. Muitos deles têm anotações, bilhetes e dedicatórias dirigidas a ele. Há exemplares de obras raras, como a primeira edição de “O Poder do Pensamento Positivo”, de Norman Vincent Peale, publicado originalmente em outubro de 1952, que virou um best-seller mundial. Além de inúmeros livros de autores brasileiros, com dedicatórias a JK.
. Há obras de arte de importantes artistas modernistas (que, por razão de segurança, a proprietária prefere não divulgar). Mas a lista que foi apresentada à coluna indica: são realmente importantes.
. No quarto, existe a cama que pertenceu ao casal JK quando do seu casamento, em 1931 – inclusive com o enxoval de cama. O móvel tem 96 anos.
. Na cozinha, a louça tem o monograma do casal JK bordado a ouro, também presente de casamento.
. Na garagem, tem uma Mercedes 1963 que JK e um grupo de amigos compraram, já pensando em usá-la na campanha de 1965 (depois, o carro seria rifado para pagar dívidas de campanha). O carro chegou ao Brasil em janeiro de 1964, mas em 14 de junho de 1964 a didadura militar cassou os direitos políticos de JK. O carro permanece sem uso, até hoje.
Visitação mediante agendamento
O local está aberto a visitas (agendadas), de terça a domingo. É cobrado ingresso, que tem preço variado de acordo com o passeio pretendido.
Tanto pode ser apenas a visitação guiada pela casa principal quanto incluir um café com guloseimas goianas, feitas pela anfitriã Rosana, e um passeio pela propriedade. Para grupos mínimos de 15 pessoas, é possível organizar também um almoço com comida típica goiana.
Informações e agendamentos pelo WhatsApp (61) 9 9845.9030 ou pelo Instagram @fazendinhajk (cuidado porque há vários perfis assemelhados). Também há um canal no YouTube, que reúne os vídeos sobre o local.