Apreensão de 150 mil litros de etanol hidratado, para uso em veículos, foi na semana passada. Ministério Público investiga se carga iria para posto que é suspeito de sonegar impostos no DF. Empresa afirma que combustível iria para a Bahia
A Larco Petróleo, empresa da Bahia responsável pelo caminhão tanque bitrem com etanol hidratado apreendido pela Receita do DF em operação no dia 8 deste mês, enviou nota à “Brasilianas” contestando a informação divulgada pelos auditores fiscais e pela Agência Brasília, site oficial de notícias do Governo do Distrito Federal.
Segundo a empresa, o seu caminhão bitrem foi “apenas parado numa fiscalização de rotina na Capital Federal, que identificou um equívoco na emissão da nota fiscal de transferência. A irregularidade foi imediatamente corrigida, o veículo foi liberado e nenhum produto foi apreendido”.
Para a Receita do DF, a história (que também havia sido relatada por esta coluna) é um tanto diferente. Segundo os auditores fiscais, houve sim a apreensão do veículo, que trafegava pela BR-060, e foi emitido o auto de infração. Como o valor da carga foi estimado em R$ 540 mil, o crédito tributário (multas e impostos devidos) foi de R$ 278 mil.
Segundo a Receita do DF, a equipe da fiscalização não pôde reter os veículos pois eles transportavam líquidos inflamáveis. Por questões de segurança, após a conferência da mercadoria, os caminhões foram liberados. Isso, no entanto, não desconfigura a apreensão.
Ainda de acordo com a Receita do DF, o caminhão não foi parado ao acaso na rodovia. “Nossos fiscais fazem uso de muito planejamento técnico, dedicam tempo aos serviços de inteligência fiscal e, claro, mantêm presença ostensiva em pontos sensíveis – principalmente nas BRs e transportadoras”, afirma.

Larco nega relação com Wave
A empresa distribuidora negou ainda que o combustível, sem nota fiscal, tivesse como destino o Posto Wave, na quadra 505 do Setor Noroeste. Este posto está sob investigação do Ministério Público do DF por suspeita de vender combustíveis bem abaixo dos valores comercializados no mercado (indicando sonegação de impostos) e por lavagem de dinheiro.
O posto Wave, segundo o MPDFT, pertence a um laranja que representa o doleiro Carlos Habib Chater, o mesmo que foi dono do Posto da Torre, o ponto de partida para a famosa “Operação Lava-Jato”, em março de 2014. O MP acredita que ele está repetindo os mesmos métodos anteriores, incluindo lavagem de dinheiro.
Na nota da Larco Petróleo, a empresa afirma “que o caminhão fazia a transferência de produto entre filiais, com destino final na Bahia, sem qualquer relação com o posto revendedor mencionado na matéria”. E completa: “A distribuidora mantém com o referido estabelecimento, apenas, um contrato comercial de fornecimento e embandeiramento, sem qualquer participação em sua gestão”. Ainda segundo a Larco, ela distribui combustíveis para cinco postos no Distrito Federal – o Posto Wave é um deles.
Para um integrante do MP, ouvido por “Brasilianas”, a história continua com várias lacunas. “Se ela distribui o mesmo combustível para cinco postos, por que somente um vende os produtos com preços muito abaixo do mercado? Por que uma empresa experiente transporta combustível sem nota, cometendo um erro primário? E quem assegura que esse combustível iria mesmo para a Bahia, já que o caminhão trafegava sem informações oficiais?”, questionou.
“Brasilianas” apurou ainda que o MP do DF está juntando mais informações e provas para decidir se vai instaurar um inquérito ou ampliar as investigações, incluindo a operação da empresa distribuidora objeto da apreensão.