Estações do metrô desgastadas, mal cuidadas e mal sinalizadas ficaram com sinais mais evidentes após a troca da gestão na Rodoviária do Plano Piloto, até então o ‘patinho (mais) feio’ do DF
As coisas não estavam lá muito boas, mas pareciam que estavam até funcionando direito. Mas bastou mudar o parâmetro de comparação para que se evidenciassem as falhas e problemas, alguns graves até.
Caro leitor de “Brasilianas”, não fique confuso. Explico: até um mês atrás, a Rodoviária do Plano Piloto era sinônimo de terminal de passageiros do DF mais sujo, confuso, cheio de ambulantes, mal sinalizado e tudo o mais que-não-funciona-ao-mesmo-tempo-agora.
Em 30 dias, tudo mudou. Aquele terminal de antes não é, agora, nem de longe, o mesmo… A Concessionária Catedral investiu, mudou e conseguiu metas em curtíssimo prazo inimagináveis até, como colocar todas as 12 escadas rolantes funcionando ao mesmo tempo. Isso, após 27 anos de funcionamento irregular.
Embora não esteja aberto um concurso público com tal finalidade, esta coluna já elegeu (sem dificuldades) o mais novo terminal “patinho feio” da cidade: a Estação Central do Metrô-DF. Que desemboca na Rodoviária do Plano Piloto. Mas, infelizmente, ela não está só, embora seja a pior delas, no momento.

E onde entram as tais “janelas quebradas”?
Vamos lá. Segundo a “síndrome da janela quebrada”, ou teoria das janelas quebradas, cujas bases teóricas foram estabelecidas na escola de Chicago, nos Estados Unidos, por James Q. Wilson e George Kelling, em 1982, “a desordem visível, como lixo, pichações, janelas quebradas e outros sinais de negligência, cria um ambiente que sinaliza que a área não é importante ou que não há supervisão. Isso, por sua vez, encoraja mais desordem e, eventualmente, crimes.”
Partindo dessa ideia, o que transparece é que o Metrô-DF deixou de lado a conservação e manutenção da Estação Central porque, aparentemente, ela estava melhor do que a vizinha Rodoviária do Plano Piloto. Mas, como agora lá (na Rodoviária) a situação é completamente outra, se evidenciaram problemas que não eram vistos, ou não eram notados, porque antes “o quintal do vizinho estava mais sujo”.
Como é sabido, este colunista é usuário do sistema urbano de transporte público – por opção. Ou seja: não são relatos de terceiros, mas apuração e vivência do funcionamento e dos problemas que serão por aqui relatados.
Vamos ver alguns exemplos:
1) Há várias paredes com as pastilhas soltas ou faltando pedaços. Essa questão não é (ou era) exclusiva do Terminal Central. Na Estação Galeria a situação era tão grave que houve até reclamação do Palácio do Buriti, e ela agora está passando por uma reforma.

2) As paredes da Estação Central estão empoeiradas. Sujas, mesmo. Há até mesmo manchas que parecem cocô de pássaros, impregnados na parede. A troca da iluminação (foram instaladas lâmpadas de LED mais potentes) fez destacar a sujeira acumulada, as teias de aranha, os restos de fuligem e os sinais de desgaste da manutenção.

3) Há pelo menos dois meses, uma das catracas de entrada está com defeito. Em vez de conserto, o que se vê é uma “obra de arte” feita com fita de bloqueio. Elas só perdem para as imensas placas de plástico usadas para a sinalização, que competem com os cones de trânsito usados pelo Detran nas ruas. A diferença é que os do Detran estão limpos. E se juntam às lixeiras sem tampas (quando existem).

4) Os elevadores do Metrô vivem desligados. O da Estação Central – segundo a empresa – é vitima de “ataques de vandalismo”. Agora que os da Rodoviária estão funcionando, quero ver qual será a justificativa. Mas o problema dos elevadores e escadas rolantes não se restringe ao Terminal Central. Há relatos em Samambaia e em Ceilândia de equipamentos parados há tempos. Por falta de manutenção.

5) Se um turista ou um novo morador na cidade precisar se orientar com base nas (pouquíssimas) placas de orientação (de orientação, mesmo???) que estão dispostas no terminal, não vai achar nenhuma informação. Até porque, elas estão quase ilegíveis, além de (muito desatualizadas). Mas essa calamidade não é exclusiva do Terminal Central.

No Terminal Asa Sul, que recebe as linhas de ônibus com os visitantes que vêm do Aeroporto de Brasília, a situação é muito mais dramática. Há mofo e lodo nos papéis informativos, que são muito, muito antigos. Eles, por exemplo, indicam que nenhuma (isso mesmo) nenhuma estação em Ceilândia está operacional (ou seja, não está concluida).

Com base nisso, dá pra calcular que este painel está lá há 19 anos, sem ser atualizado. Isso porque em 2006 essas estações começaram a operar.

6) A Rodoviária do Plano Piloto ganhou painéis “padrão Aeroporto” para a informação dos horários das linhas dos ônibus. Pois o Metrô, depois de pelo menos três anos fazendo uma licitação ao custo de R$ 13,7 milhões, concluiu somente em abril (agora, recentemente) o seu novo sistema de informação. Pois bem… já está com pane.
Na Estação Furnas, por exemplo, os painéis de informação estão há uma semana desligados. Sem informação. E sem explicação (porque esta coluna perguntou ao Metrô-DF o que aconteceu e está, até este momento, esperando… Acho que vou sentar!).

7) Os tótens que indicam o nome das estações seguem “o padrão” das demais estruturas do Metrô-DF: enferrujadas, apagadas e com cara de abandono.

Consta do Relatório de Auditoria do Metrô-DF de 2024, documento público que está no portal da empresa, que deve ser feita uma licitação para uma nova proposta de comunicação visual para as estações. Estamos em julho e, até o momento, não consta nenhuma providência neste sentido.

Piora para os passageiros, melhora para os investidores
Falando em Relatório de Auditoria de 2024, o do ano passado dá uma mostra de como anda a situação na empresa. De 59 dados operacionais avaliados pelos auditores, 37 apresentaram piora em relação a 2023 – ou seja, 62% dos quesitos avaliados tiveram piores desempenhos no ano passado.
Entre eles, estão o número de passageiros transportados, de viagens programadas e realizadas, de quilômetros percorridos – além de todos os itens relacionados a receita por tarifas dos usuários pagantes.
Houve alento (ou seja), melhoraram 18 itens – mas não aqueles de interesse dos passageiros. Pelo contrário, o que ficou melhor foi o repasse de pagamento para os investidores no capital da empresa (que é o próprio GDF) e o superávit financeiro.
E não é apenas “Brasilianas” e são os dados da Auditoria que indicam que os passageiros estão deixados de lado. O último relatório da Ouvidoria do Metrô (que é de março, ou seja, de quatro meses atrás, o que indica pouca transparência na gestão da empresa) afirma categoricamente: “Durante o mês (de março de 2025), houve um aumento significativo de queixas relacionadas à superlotação e lentidão, atribuídas à baixa oferta de trens. Os gráficos apontam um alto índice de reclamações, principalmente por falhas operacionais no sistema.
Entre os principais pntos de insatisfação, destaca-se a recorrente quebra de elevadores nas estações, além de criticas frequentes ao atendimento prestado pelos empregados nas estações.”
Culpa é da Imprensa?
Este colunista atua no jornalismo há quase quatro décadas. E sabe que é normal que quando uma situação de um setor ou de uma empresa (sobretudo quando é pública) não vai bem, mas é destacada negativamente no noticiário, é “culpa da imprensa”. E “Brasilianas” já ouviu isso, acreditem, leitores!
Talvez se o presidente do Metrô-DF, Handerson Cabral (que se auto-intilula o “CEO do Metrô”) usasse o sistema que preside, esses problemas poderiam ser minimizados. Por tão inusitado que é, vale lembrar ess fato: em entrevista à “Brasilianas” em outubro do ano passado, Handerson afirmou que usou o Metrô que preside “por duas vezes”, desde 2019, pois prefere usar o carro oficial da empresa. Nem para ver se as coisas estão funcionando.
Esta coluna se lembra do lendário governador Joaquim Roriz, que foi um dos mais populares governantes do DF, e que (entre outras tantas conquistas) autorizou a construção do Metrô (que segue praticamente do mesmo tamanho de quando ele foi criado, em 1991). Roriz tinha sempre um auxiliar que anotava tudo o que ele via de errado nas andaças dele pela cidade. “Ele olha até o tamanho da grama e manda aparar”, contou esse apontador uma vez a este colunista, há alguns anos.
Sem licitação para a limpeza
O contrato de limpeza do Metrô-DF atualmente em vigor, assinado com a empresa Ipanema Empresa, Serviços Gerais e Transportes Ltda, tem um valor global de R$ 16.918.833,00. Este contrato, de número 059/2021, foi prorrogado até a conclusão do processo licitatório em andamento.
Mas, segundo o site do Metrô, a nova licitação segue suspensa “sine die” – ou seja, por tempo indeterminado, sem data ou prazo específico para a retomada.